Haiti e Migração
O homem desde sempre se muda para outros
lugares. Essa mudança ocorre por
diversas razões como guerra, crises políticas, religiosas e econômicas. Assim,
todos os anos devido a essas situações, centenas de milhares de indivíduos se
põem a caminho em busca de melhores condições de vida.
O início do ano de
2010 para muitos foi bem sucedido e para outros foi o início marcado por
tragédias. Assim, enquanto uns comemoram, outros derramam lágrimas. Desse ano para cá, tem-se notado que as
mudanças climáticas vieram ocasionando vários problemas em diferentes países,
acarretando mais e mais deslocamentos. Observa-se que as mudanças climáticas e
a mobilidade humana são duas temáticas que vêm sendo muito debatidas em várias
instituições acadêmicas, nos meios de comunicação social, e tornando-se objeto
de pesquisa em vários campos de estudo. Várias questões são colocadas, por
exemplo: como proteger o planeta diante das mudanças climáticas e como atender essas pessoas em deslocamento em
um mundo em crise? O que isso
nos diz?
Das tragédias
decorrentes de desastres naturais, no ano de 2010, a mais violenta e
destrutiva foi a de 12 de janeiro de 2012 que veio agravando a situação do povo
haitiano e causando a saída de muitos haitianos em busca de trabalho. Na
Comunidade Internacional, o Brasil, país do futuro, foi um dos que abriu suas
portas aos haitianos.
O Brasil, hoje,
conta com uma população de 193 milhões de habitantes. É um país formado por
imigrantes, e já em 1818 adotou sua primeira política imigratória trazendo,
primeiramente, suíços para Nova Friburgo e, sobretudo, alemães, os quais se
estabeleceram em maior número na região do Sul do país. A partir da crise do
cativeiro, foram trazidos para a lavoura, italianos, espanhóis, portugueses,
japoneses, entre outros. No pós-guerra, o Brasil privilegiou a vinda de mão de
obra especializada, em especial através dos refugiados de guerra, pois já havia
implementado seu processo de industrialização. Entre os anos de 1950
e 1980, a imigração para o Brasil praticamente cessou e foi a vez da
migração interna ocupar o cenário. Neste período, o Brasil deixou de ser um
país com sua população majoritariamente morando no campo para se transformar
num país urbano, com grande concentração nas Regiões Metropolitanas.
A partir dos anos 1960, novos imigrantes
começaram a chegar: bolivianos (que já se faziam presentes nas décadas
anteriores), coreanos, e os que fugiam das ditaduras do Cone Sul – chilenos,
uruguaios, argentinos e paraguaios. Já na década de 1980, os bolivianos que
chegavam mudaram de perfil: não mais estudantes ou profissionais liberais, mas
trabalhadores braçais para o ramo das confecções. Já no final dos anos 1990,
ingressaram outros imigrantes, vindos dos países andinos (peruanos e
colombianos), mas a maior novidade foi a chegada de africanos, em especial
vindos de Angola e da República Democrática do Congo, na condição de
refugiados. Todavia, hoje o Brasil recebe, embora de maneira pulverizada,
africanos de muitos países.
Após o violento e devastador sismo de 2010,
foi a vez dos haitianos chegarem ao Brasil. Muitas das vítimas e sobreviventes,
na tentativa de reescrever a gênese de um sonho, caminharam para outras terras.
Alguns para a América do Norte (Estados Unidos e Canadá), outros para América
Latina (Brasil, Equador, Argentina...) e alguns outros para outros países.
Para o Brasil, nunca houve migração haitiana,
apesar de o Brasil ser um país com fama de acolhedor. Depois do abalo, isso não
tardou para acontecer e hoje, há migrantes haitianos no Brasil: “Os Novos Rostos da Imigração
para o Brasil” [1].
A presença deles abre grande interesse no campo
antropológico, cultural, religioso, etc. Assim, muitos estudantes se interessam
em conhecer a história do Haiti e a sua migração. No entanto, há muitos
mal-entendidos quanto ao país e essa atual migração. Muitos pensam que o Haiti
é um país paupérrimo, como a mídia vem divulgando, como se lá só houvesse
pobreza. Essa insistência sobre a pobreza do Haiti é uma questão de interesse
que vem adotando a Comunidade Internacional. Haiti não é um país pobre senão um
país empobrecido pelos imperialistas.
No que diz respeito à atual migração haitiana para o
Brasil, seu ingresso deu-se, sobretudo, pela fronteira amazônica. Entretanto,
há que se ressaltar que poucos deixaram diretamente o Haiti para se dirigirem
ao Brasil. De onde saíram? Poucos saíram do Haiti. A grande maioria já estava
em outros países, como Argentina, Peru, Equador, República Dominicana, Chile,
etc. Os migrantes haitianos que saíram do Haiti começaram a chegar ao Brasil
depois do acordo firmado pelo Brasil.
O Haiti é um país muito
brilhante, com uma grande variedade de recursos naturais, artes e uma cultura
diversificada. Infelizmente, não é conhecido por essas características, mas sim
pela pobreza que as mídias do mundo insistentemente fazem questão de divulgar.
O que é absolutamente falso.
Historicamente, o Haiti foi conquistado pela
Espanha e colonizado pela França. Saqueado totalmente por eles. Em busca de libertação
e liberdade, foram organizadas várias revoltas, sendo a mais marcante a
cerimônia de Bois-Caiman[2].
Ali, os haitianos se revoltam contra os colonizadores franceses em busca da
abolição da escravatura. Naquela época, a França tinha o maior Exército e foi
derrotado por Haiti. Vale a pena ressaltar que o vodu, na história do Haiti,
sempre desempenhou papel muito importante e decisivo. Não há como falar da
história do Haiti sem falar do vodu, ou seja, falar do vodu sem falar da
história do país. Sendo assim, falar da
independência do Haiti é ver o Haiti como dono das palavras: LIBERDADE e
LIBERTAÇÃO.
Algo que pode lhes parece incrível, mas
verdadeiro, Haiti ocupou a República Dominicana por 21 anos.
No decorrer da história do país, devido a sua
instabilidade política, os Estados Unidos decidiram de ocupá-lo militarmente.
Depois da ocupação, o Haiti foi governado por ditaduras, sendo as mais
sangrentas, as dos Duvalier (pai e filho). No regime dos Duvalier, muitos
haitianos tiveram que se exilar, principalmente nos Estados Unidos e Canadá,
mas também em Martinica,
Guadalupe, Guiana francesa, etc.
Uma revolta popular depõe o filho Duvalier do
poder o qual se exila na França, marcando o fim do duvalierismo. Eleições
democráticas foram organizadas, tendo sido eleito um padre salesiano,
Jean-Bertrand Aristide[3]. Desde então, o Haiti, ao longo de sua história
democrática, tem trazido uma frequente instabilidade política e crises
repetidas, que nunca parecem ser resolvidas. A Comunidade Internacional
se vê sempre no "vai e vem" em tentativa de ajudar a resolver as
crises. Quando uma crise está resolvida, surgem outras. Pode-se perguntar: será
que há algum interesse por trás dessas crises?
O problema do Haiti, como sempre tenho
repetido, não é nada mais do que um problema político-social, no qual derivam
os vários problemas existentes no país, agravados pelo maldito terremoto.
Diante desse
panorama, os estudantes CINTHIA KELLY MACEDO e GABRIEL BMATTI COSTA, em busca
de obtenção de bacharelado, desejam apresentar ao grande público brasileiro um
estudo sério e profundo sobre a atual migração haitiana para o Brasil.
[1] Foi um dos títulos dos meus
artigos no qual expliquei um pouco a trajetória da migração haitiana. Depois de
ter percebido a desordem nessa migração, questionei também o por quê o governo
Brasileiro não assina um acordo com o Haiti sobre a quantidade de haitianos que
poderia receber. Alguns meses depois, o
governo brasileiro assinou esse acordo sobre o efetivo de haitianos que vai
receber por mês para o Brasil.
[2]
Bois-Caiman é uma cidade ao norte do país, onde foi organizada a cerimônia da
revolta.
[3][3]
Jean-Bertand Aristide foi um padre salesiano que criticava o regime de Duvalier
(filho) de tortura. As suas homilias chamavam atenção dos fiéis, assim aos
poucos se tornou o amigo dos mais pobres daquele bairro do centro da capital
onde ele exercia sua função sacerdotal. Foi eleito presidente e logo derrotado
por um golpe de Estado e foi para o exílio. Voltou ao país para continuar seu
mandato. Foi reeleito mais tarde, mas foi vítima de um novo golpe de Estado,
foi para exílio novamente. Hoje vive no Haiti dedicando-se à educação.
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