sexta-feira, 25 de maio de 2012

Haiti precisa redescobrir Medellín e Puebla


Haiti precisa redescobrir Medellín e Puebla

Nós somos um povo ferido que chora. O nosso choro se multiplica em grandes lágrimas agravadas pelo terremoto. Os nossos políticos se preocupam em defender seus próprios interesses. Procuram fazer da política um meio de enriquecer-se, um meio de atender seus grupos, etc. Sendo assim, a política se torna um meio de enriquecer rápido. Enquanto isso, o povo continua derramando lágrimas e as suas necessidades não são atendidas. Quem secará as lágrimas do nosso povo?  
É inacreditável, mas é a verdade que o Haiti é o país quem fez nascer as palavras libertação e liberdade para o continente latino-americano. Mas sua história continua marcada por opressão, injustiça, dominação estrangeira, desigualdade, empobrecimento, corrupção políticas, etc. O país desde 2004 está passando por um processo de ocupação militar sob a ordem da ONU, chefiado pelo Brasil. Depois do terrível terremoto, aumentou o número dos militares. O que machuca o povo haitiano é ver toda a sua terra, o mar e o céu, tudo ocupado militarmente. O país está sob o controle da Comunidade Internacional. Inclusive para organizar as eleições é sempre a Comunidade Internacional quem decide. Isso não é uma “neocolonização”?
Como falar, nesse sentido, de um país independente, se está privado de sua autonomia política e econômica? Isso não é uma injustiça externa?
A situação em que vive o Haiti é uma situação profundamente marcada pelo pecado da injustiça e da opressão. O caminho para o êxodo desta situação desumana e anticristã para uma situação humana e cristã é o da evangelização libertadora; uma libertação transformadora das estruturas nas quais o povo haitiano vive, onde ricos se tornam cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.
Para que a Igreja e a sociedade haitiana voltem-se para os pobres e para que essa opção pelos pobres seja realmente evidenciada, é preciso anunciar, denunciar e convocar. Isto é, anunciar propostas alternativas, denunciar as amargas estruturas de injustiça que oprimem o povo e convocar este povo à participação em comunhão em busca de libertação. Falando especificamente da missão da Igreja e do cristão, tanto no Haiti quanto na América Latina, significa comprometer-se com a mudança da realidade, a partir da fé. Este compromisso envolve todas as esferas da realidade: dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais, religiosas, etc.
Nesse sentido, é preciso no Haiti uma teologia e uma prática concretas que se voltem à realidade do povo. Essa teologia precisa utilizar o método indutivo, isto é, partir da realidade. Para a cristologia significará, sobretudo, procurar na história de Jesus e em sua mensagem evangélica a orientação para responder aos problemas vitais que desafiam a sociedade haitiana.
Este é um caminho de libertação. A libertação integral. Reler e aplicar as Conferências de Medellín e Puebla à luz do Evangelho de Jesus Cristo Salvador é uma sugestão prática. Elas nos perguntarão se estamos optando pelos pobres. O Haiti, nesse sentido, precisa de teólogos, de antropólogos, de historiadores, de biblistas, de sociólogos, etc., que o ajudem a caminhar na direção da justiça e da paz.
O povo haitiano precisa dessas pessoas que caminhem com ele e lhe ensinem que está oprimido, que tem de libertar-se, indicando-lhe os instrumentos da libertação.
É necessário uma tomada de consciência, compromisso, e participação em comunhão, tendo em vista a libertação na busca de um Haiti melhor, onde haja condições de vida digna para todos.

Pierre Dieucel

Estudante religioso Scalabriniano