Haiti precisa redescobrir Medellín
e Puebla
Nós
somos um povo ferido que chora. O nosso choro se multiplica em grandes lágrimas
agravadas pelo terremoto. Os nossos políticos se preocupam em defender seus próprios
interesses. Procuram fazer da política um meio de enriquecer-se, um meio de
atender seus grupos, etc. Sendo assim, a política se torna um meio de enriquecer
rápido. Enquanto isso, o povo continua derramando lágrimas e as suas
necessidades não são atendidas. Quem secará as lágrimas do nosso povo?
É
inacreditável, mas é a verdade que o Haiti é o país quem fez nascer as palavras libertação e liberdade para o continente latino-americano. Mas sua história
continua marcada por opressão, injustiça, dominação estrangeira, desigualdade, empobrecimento,
corrupção políticas, etc. O país desde 2004 está passando por um processo de
ocupação militar sob a ordem da ONU, chefiado pelo Brasil. Depois do terrível terremoto,
aumentou o número dos militares. O que machuca o povo haitiano é ver toda a sua
terra, o mar e o céu, tudo ocupado militarmente. O país está sob o controle da
Comunidade Internacional. Inclusive para organizar as eleições é sempre a
Comunidade Internacional quem decide. Isso não é uma “neocolonização”?
Como
falar, nesse sentido, de um país independente, se está privado de sua autonomia
política e econômica? Isso não é uma injustiça externa?
A
situação em que vive o Haiti é uma situação profundamente marcada pelo pecado
da injustiça e da opressão. O caminho para o êxodo desta situação desumana e
anticristã para uma situação humana e cristã é o da evangelização libertadora; uma
libertação transformadora das estruturas nas quais o povo haitiano vive, onde ricos
se tornam cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.
Para
que a Igreja e a sociedade haitiana voltem-se para os pobres e
para que essa opção pelos pobres seja realmente evidenciada, é preciso
anunciar, denunciar e convocar. Isto é, anunciar propostas alternativas,
denunciar as amargas estruturas de injustiça que oprimem o povo e convocar este
povo à participação em comunhão em busca de libertação. Falando especificamente
da missão da Igreja e do cristão, tanto no Haiti quanto na América Latina,
significa comprometer-se com a mudança da realidade, a partir da fé. Este
compromisso envolve todas as esferas da realidade: dimensões econômicas,
sociais, políticas, culturais, religiosas, etc.
Nesse
sentido, é preciso no Haiti uma teologia e uma prática concretas que se voltem
à realidade do povo. Essa teologia precisa utilizar o método indutivo, isto
é, partir da realidade. Para a cristologia significará, sobretudo, procurar na
história de Jesus e em sua mensagem evangélica a orientação para responder aos
problemas vitais que desafiam a sociedade haitiana.
Este
é um caminho de libertação. A
libertação integral. Reler e aplicar as Conferências de Medellín e Puebla à luz
do Evangelho de Jesus Cristo Salvador é uma sugestão prática. Elas nos
perguntarão se estamos optando pelos pobres. O Haiti, nesse sentido, precisa de
teólogos, de antropólogos, de historiadores, de biblistas, de sociólogos, etc., que o ajudem
a caminhar na direção da justiça e da paz.
O
povo haitiano precisa dessas pessoas que caminhem com ele e lhe ensinem que
está oprimido, que tem de libertar-se, indicando-lhe os instrumentos da
libertação.
É
necessário uma tomada de consciência, compromisso, e participação em comunhão,
tendo em vista a libertação na busca de um Haiti melhor, onde haja condições de
vida digna para todos.
Pierre Dieucel
Estudante religioso
Scalabriniano
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